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Mês para a consciencialização ‘One Health’

Janeiro foi o mês para a consciencialização ‘Uma Saúde’ e, por isso, considerámos esta uma excelente ocasião para convidar os Professores Carlos Vasconcelos, Luísa Valente e Adriano Bordalo e Sá, membros da comissão ‘Uma Saúde’ do ICBAS a escrever a sua visão sobre as várias perspetivas do conceito, aplicado à realidade da medicina humana, animal e da saúde do ambiente.

‘One Health sob a perspectiva médica –  Saúde humana’

Sim, todos sabemos, quando paramos para pensar sobre o assunto, que não estamos sós no planeta. Mas no dia-a-dia atuamos como se estivessemos. A não ser que… as “coisas” se nos imponham, como é o caso da pandemia COVID-19. Um micróbio, o vírus SARS-CoV-2, sai do seu reino e, mais rápido que Gengis Khan, põe a velha e altamente civilizada europa, todo o mundo ocidental, aliás, todo mundo, paralisado na economia (então e os banqueiros tão importantes?!), na educação (valeu-nos a realidade virtual…) e no turismo (tantos aviões parados, tanta gente sem trabalho…). Em suma, mexeu com toda a nossa vida, as grandes e as pequenas coisas, os pequenos e os poderosos.

Como foi possível? A resposta é só uma, clara e óbvia (como podemos ser tão estúpidos?!): no nosso mundo TERRA tudo está interconectado, o maior animal com o mais pequeno micróbio, as árvores, o vento e o sol, eu, tu, o negro da África, o amarelo da China, o vermelho da América, o mais inteligente e o mais inculto, a bela princesa e o monstro, o rico e o pobre, todos estamos ligados.

O que cada um fizer, a rede interconetada saberá, sentirá, adaptar-se-á, e pur si muove…

Tratamos o mundo como se fossemos donos absolutos, nas “tintas” para tudo o resto. E, pelo menos por agora, sabemos que não o devemos fazer.

É urgente este tempo de mudar. Todos nós, cada um de nós, não poderá duvidar da sua responsabilidade nesta luta pela continuação da vida na Terra.

Na saúde humana muitas são as atitudes que devem sofrer o vento da mudança, a começar por ver à nossa volta – não apenas olhar! –  e reconhecer os outros, seres vivos e ambiente. E mudar práticas, como o uso inadequado de antibióticos na comunidade e, também,  no hospital, gerando estirpes microbianas mais resistentes e estimulando, num ciclo vicioso, o investimento na investigação e recursos financeiros, que poderiam ser dirigidos para objetivos mais úteis à saúde humana.

O conceito Uma Saúde, eleva à máxima potência a necessidade de articulação entre todos os que podem contribuir para melhorar e, mais ainda, prevenir uma saúde global. Entre os profissionais de saúde, em especial os médicos, na comunidade e nos hospitais, não podem limitar-se a tratar bem “a doença”. Têm de ver o doente na sua globalidade, em que meio vive, o que come, que exercício faz, como se integra na família e na sociedade. É preciso perceber as causas que levaram à doença: foi relacionado com a alimentação, com a água que bebe ou bebeu, com os animais com que contata ou contatou, com o ambiente em que desenvolve o seu trabalho, ou com aquela viagem aos confins do mundo com que tanto sonhou?

Como médico há 45 anos, estou numa priveligiada situação para dizer: não podemos continuar assim meus caros colegas! Temos ser mais globais, mais integradores e tentar, sempre, perceber o que pode estar por trás da doença que tão bem diagnosticamos e tratamos. Isso não basta. A bem de Uma Saúde temos de pensar e atuar mais profundamente e, acima de tudo, estar interligado com todos os outros intervenientes da dimenção SAÚDE. Só assim teremos amanhã para os nossos descendentes.

Carlos Vasconcelos, Médico Especialista em Medicina Interna e Professor Catedrático convidado do ICBAS

Promover a saúde animal e humana

A saúde animal adquiriu uma importância sem paralelo. Com a pandemia COVID-19 ficou bem evidenciada a interligação entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a segurança alimentar.

Mais esquecida, porém, está uma outra luta com a qual nos debatemos diariamente, embora bem mais silenciosa: a resistência aos antibióticos. Trata-se de um desafio da maior relevância para atingir os objetivos elencados no Plano de Ação Europeu de “Uma Só Saúde” e na Estratégia do Prado ao Prato que levou, a partir do início deste ano, a serem aplicáveis novas regras para promover a saúde animal e combater a resistência antimicrobiana.

Limitar o recurso a antibióticos a situações de extrema necessidade é uma prioridade, tendo a União Europeia estabelecido como meta a sua redução para metade até 2030. Esta aposta começou já na produção animal, incluindo a aquacultura, onde a seleção de estirpes mais robustas, bem como a adoção de melhores práticas de cultivo, incluindo a vacinação, melhor higiene e adequação das condições ambientais à produção de cada espécie, são já uma prática corrente. Têm-se ainda desenvolvido estratégias eficazes para a prevenção de doenças, através do novo conceito de nutrição de precisão, onde as dietas são formuladas de forma rigorosa e personalizada para responder às exigências nutricionais de cada animal.

Atualmente recorrem-se a tecnologias de ponta (sensores, tecnologias de informação, inteligência artificial) capazes de monitorizar em tempo real o estado fisiológico do animal permitindo integrar um grande volume de dados e converte-los em tomadas de decisão rápidas e assertivas que antecipam cenários. O resultado destas boas práticas traduz-se no aumento da eficiência da produção e do bem-estar animal, minimizando o impacto no ambiente. Por outro lado, o controlo total da cadeia de valor do setor agroalimentar permite hoje garantir a rastreabilidade dos produtos e a segurança alimentar do consumidor

A produção animal tem apostado de forma crescente na utilização de dietas sustentáveis e funcionais com dois objetivos. Por um lado, a inclusão de suplementos que oferecem benefícios à saúde do animal, o que permite aumentar a sua capacidade de resistência a condições ambientais desafiadoras (temperaturas mais extremas, menor disponibilidade de água e águas mais ácidas). Por outro lado, podem ser depositados no músculo e ou no leite, e aumentar o valor nutricional destes produtos.

As preocupações dos consumidores com o valor nutricional dos alimentos são cada vez maiores. A procura de produtos com alegações específicas como sejam “fonte de selénio” ou “rico em ómega-3” é uma tendência global, à qual a produção animal tem, através de novas fórmulas, direcionado a diferentes grupos etários (crianças e idosos), ou estados de saúde.

Por isso, podem hoje ser encontrados alimentos ricos em ómega-3, em iodo e selénio, em ferro e outros minerais que, contrariamente às soluções inorgânicas disponíveis em farmácias, são facilmente assimiláveis, e por isso melhor utilizados pelo nosso organismo e mais saudáveis. Os suplementos alimentares na produção animal serão assim uma tendência crescente, que permitirá mitigar os desafios associados às alterações climáticas e contribuir para a produção de alimentos saudáveis e seguros.

Por fim gostava de mencionar o impacto das nossas escolhas alimentares no ambiente. Portugal é um país deficitário na produção da maioria dos produtos agrícolas que consome, incluindo carne, frutos, cereais (exceto arroz), leguminosas e oleaginosas. Ou seja, temos que importar estes produtos. Os transportes continuam a ser uma fonte significativa de poluição atmosférica, prejudicando o ambiente e a saúde humana. A escolha de produtos locais e sustentáveis deverá constituir-se como uma responsabilidade individual e um contributo de cada um para um planeta mais saudável.

Luísa M.P. Valente, Professora Associada do ICBAS

O Ambiente no conceito One Health

A Biosfera é a fina camada do nosso Planeta onde existe vida desde há 4 mil milhões de anos. De então para cá, os seres vivos experimentaram períodos de forte desenvolvimento, intercalados com outros de avassaladoras extinções. O Homo sapiens sapiens veio baralhar os processos naturais, fruto da enorme pressão exercida sobre o ambiente, agora à escala global. Da sobrevivência equilibrada no passado, passou-se para uma intervenção directa, onde imperam diversos interesses, entre os quais os económicos, à medida que a visão antropocêntrica do Planeta se consolidou.

A ideia de desenvolvimento sustentável surge em 1987, pela mão das Nações Unidas, face à escalada da acção do Homem sobre o Ambiente. Hoje, mais do que uma peça de retórica, é imperioso satisfazer as carências presentes de um mundo em mudança, sem por em risco o legado e as necessidades das gerações vindouras.

Nos dias que correm, temos cada vez mais a percepção de que tudo está interligado. Se por um lado a nossa actividade afecta o Ambiente, este continua a afectar o Homem, desde sempre e a degradação da Biosfera tem, inexoravelmente, efeitos dramáticos sobre a saúde humana, animal e vegetal.

Esta visão está, claramente, plasmada no conceito One Health, em que a saúde do Ambiente é uma das componentes chave e, cada vez mais, colocada na ordem do dia.

Adriano A. Bordalo e Sá, Director do Departamento de Estudos de Populações do ICBAS

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Vigilância da saúde de animais é fundamental para evitar transmissão de doenças a seres humanos

De tudo o que sabe até hoje, e que vai muito para além das teorias da conspiração, o SARS-CoV-2, o vírus que provoca a COVID-19 teve origem num animal. Os peritos da Organização Mundial de Saúde enviados a Wuhan, na China, concluíram que o cenário mais provável é de uma origem zoológica, através de um hospedeiro intermediário, fosse ele um morcego ou outro animal que ainda não foi identificado. O que veio mostrar quão essencial é vigiar os vírus nos animais de forma a evitar o contágio de seres humanos. É a chamada abordagem integrada da saúde que liga ambiente, animais e o Homem e que o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, já faz.

Veja a reportagem completa no site da RTP.

Fonte: RTP Notícias

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Contributos da Antrozoologia e da Psicologia Ambiental para Uma Saúde

O Departamento de Ciências do Comportamento do ICBAS integra uma equipa de investigação dedicada à produção de conhecimento científico nas áreas da Antrozoologia (ciência que estuda a interação entre pessoas e animais) e a Psicologia Ambiental (ciência que estuda o comportamento humano em sua inter-relação com o meio ambiente). Especial atenção tem sido dada ao potencial terapêutico dos animais de companhia (cães em particular) e aos benefícios das Intervenções Assistidas por Animais implementadas em diferentes contextos clínicos e educativos e junto de diversas populações. Atenção crescente tem também sido dada ao potencial catalisador de saúde associado ao contacto com ambientes naturais e biofílicos.

Claramente orientada por uma perspetiva de Promoção de Saúde, esta equipa de investigação assume como objetivo máximo a translação do conhecimento científico para a sociedade no sentido de i) apoiar a população a aumentar o seu controlo sobre, e melhorar, o seu bem-estar através do contacto com animais e ambientes naturais, ii) apoiar a integração nos serviços de saúde de intervenções envolvendo estes agentes, e ainda, por inerência iii) promover a proteção e conservação da Natureza enquanto fonte de saúde e bem-estar.

Para saber mais:

Cães como agentes promotores de imitação espontânea em crianças e adultos com transtorno do espectro autista grave

Associação entre níveis de ansiedade de donos e seus cães: efeitos de moderação e mediação

Contacto com a natureza reduz níveis de ruminação mental: o papel mediador do deslumbramento e do humor

Contacto: Doutora Karine Silva (cssilva@icbas.up.pt)

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Semana Mundial para a Sensibilização das Resistências aos Antimicrobianos

O contributo das Universidades para a sensibilização das resistências aos antimicrobianos

De 18 a 24 de novembro decorreram, na Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), diversas iniciativas para assinalar a Semana Mundial para a Sensibilização das Resistências aos Antimicrobianos.

Tendo em conta o tema escolhido este ano “Spread Awareness, Stop Resistance/ Espalhe a consciência, pare a resistência”, a DGAV recolheu alguns testemunhos em vídeo, de diferentes personalidades e profissionais representando diversas perspectivas sobre o impacto das Resistências aos antimicrobianos na Saúde Publica, na Saúde Animal e no meio ambiente.

O Professor João Niza Ribeiro, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, neste vídeo, destaca o contributo das Universidades para a sensibilização das resistências aos antimicrobianos e para a aplicação das boas práticas para o uso responsável dos antimicrobianos, através da formação dos profissionais na área da produção animal, bem como ainda, através da colaboração com as autoridades para desenvolver e melhorar sistemas que permitam aos sectores da agropecuária responder ao grande desafio da diminuição da utilização destes fármacos.

Fonte: DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária

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Estratégias alimentares inovadoras para promoção da saúde e do bem-estar de cães

Na Europa, a população de animais de companhia tem vindo a aumentar, sendo que, em 2020, se contabilizaram cerca de 90 milhões de cães, em 56 milhões de agregados familiares. Já em Portugal, cerca de 38% das famílias possuíam cães como animais de companhia, totalizando uma população de cerca de 2 milhões de animais. Assim, à semelhança da Europa, os lares portugueses têm já mais animais de companhia do que crianças, sendo estes considerados elementos ativos da família.

A crescente humanização dos animais de companhia tem exacerbado a preocupação dos tutores com a qualidade e a segurança alimentar, assim como com o impacto da alimentação no bem-estar e na saúde dos animais. Com efeito, os tutores procuram, cada vez mais, alimentos compostos completos que assegurem a satisfação das necessidades nutricionais e que, concomitantemente, tenham efeitos funcionais, mormente na promoção da saúde, no bem-estar e na longevidade. Acresce que o aumento da produção de alimentos compostos para fazer face ao aumento da população animal representa um impacto ambiental que não pode ser negligenciado.

Todas estas alterações têm contribuído para a necessidade de desenvolver novas estratégias alimentares, assim como identificar novos ingredientes mais sustentáveis dos pontos de vista ambiental, económico e social e com qualidades funcionais. O Laboratório de Ciência Animal, do ICBAS, tem desenvolvido vários projetos no sentido de encontrar estratégias alimentares mais sustentáveis que contribuam para a promoção da saúde, do bem-estar e da longevidade com qualidade, quer de cachorros, quer de cães adultos, em direção ao desafio societal de Uma Saúde.

Para saber mais:

Composição mineral de alimentos secos para cães: impacto na nutrição e potencial toxicidade

Efeitos da suplementação da dieta com selenito de sódio e leveduras enriquecidas com selénio na saúde de cachorros desde o desmame até à idade adulta

Efeitos do zinco e da adição de enzimas na microbiota fecal de cães

Contacto: Professora Ana Rita Cabrita (arcabrita@icbas.up.pt)

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Terapias celulares e dispositivos médicos para Medicina Regenerativa: da Medicina Veterinária ao Homem

O grupo de investigação evidencia uma atividade forte e de referência na Medicina Regenerativa e na Engenharia de Tecidos como áreas críticas da Biomedicina e da Biotecnologia na perspetiva de Uma só Saúde. Os principais projetos de investigação centram-se na regeneração de tecidos, associando biomateriais inovadores a células estaminais autólogas/ alogénicas/ xenogénicas, de origem extra-fetal, como o sangue e a matriz do cordão umbilical, a medula óssea, a membrana sinovial e a polpa dentária.

Existe estreita colaboração com as indústrias farmacêutica e de biotecnologia médica, trabalhando como parceiras, para desenvolvimento de produtos, proteção de propriedade intelectual, validação em diferentes modelos animais, e na futura aplicação clínica. Excelentes exemplos de projetos específicos com a Indústria são: 1) Regeneração de tecido neuromuscular – uma abordagem integrativa; 2) Hidrogéis híbridos nano-estruturados e substitutos ósseos sintéticos: hidrogéis injetáveis ​​multifuncionais para regeneração óssea; 3) Desenvolvimento de atividades terapêuticas moleculares e celulares para Aplicações Clínicas Veterinárias e Humanas; 4) Ensaios pré-clínicos e clínicos de terapias baseadas em células e dispositivos médicos para aplicações clínicas Veterinárias e Humanas.

A equipa multidisciplinar, que inclui Médicos Veterinários, Engenheiros, Biólogos, Médicos que através da Cirurgia Experimental, têm um papel crucial no desenvolvimento de biomateriais/ dispositivos médicos e terapias celulares, permite uma partilha de conhecimento entre desenvolvimento de biomateriais e de sistemas celulares, necessidades clínicas, assim como uma vasta experiência no desenvolvimento de medicamentos de terapia avançada (ATMP) do ponto de vista da bioindústria, com uma visão clara do que é necessário em termos regulatórios para alcançar uma produção final translacional para Animais e Humanos.

O grupo é responsável por inúmeras publicações científicas, formação avançada e por 3 produtos já presentes no mercado (terapias celulares de polpa dentária e geleia Whärton e substituto ósseo sintético) e uma patente internacional – Regenera, em fase final de prova-de-conceito para aplicação clínica em cavalos e animais de companhia.

Para saber mais:

Aplicação do Bonelike® como enxerto ósseo sintético em cirurgia ortopédica e oral em casos clínicos veterinários

Perfis de fatores metabolómicos e bioativos de células estaminais mesenquimatosas: uma análise comparativa sobre o secretoma de células estaminais mesenquimatosas de cordão umbilical e da polpa dentária

Contacto: Professora Ana Colette Maurício (acmauricio@icbas.up.pt)

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Bem-estar, qualidade e segurança do pescado

O pescado é um dos grupos de alimentos cujo consumo é mais incentivado pelos nutricionistas atuais, em resultado dos seus reconhecidos benefícios para a saúde humana. Sendo um alimento do futuro, para além da sustentabilidade, importa aprofundar os métodos de avaliação da sua qualidade e da sua segurança alimentar.

A investigação em curso no Laboratório de Tecnologia do Pescado do Departamento de Produção Aquática do ICBAS incide sobretudo no desenvolvimento de novos métodos sensoriais, químicos e microbiológicos para avaliação da frescura do pescado e identificação da sua origem e autenticidade. São também investigadas medidas para avaliar e melhorar o bem-estar animal em aquacultura e a gestão e aproveitamento dos desperdícios da sua produção.

Na análise sensorial, têm sido criadas novas tabelas no âmbito do ‘Quality Index Method’, para várias espécies aquáticas com relevância em Portugal.

Na área da química foram realizados trabalhos para caraterização nutricional e toxicológica (mercúrio) de espécies do topo da cadeia alimentar, presumivelmente mais problemáticas.

Na microbiologia têm sido feitos estudos de caraterização da microflora do pescado, bem como o desenvolvimento de novas técnicas microbiológicas para caraterização e identificação da origem de espécies de aquacultura.

A gestão de desperdícios tem incidido na identificação de fontes, caraterização dos resíduos e na sua utilização como ingredientes em alimentos compostos para animais, sobretudo de aquacultura.

O trabalho tem incluído também a caraterização do bem-estar animal em peixes de aquacultura, sobretudo métodos de abate e melhoria da sua eficácia.

Na área da certificação, foi efetuada uma listagem de sistemas internacionais de certificação de produtos aquáticos e dos principais produtos, e é dado apoio, a empresas da área do pescado, na criação deste tipo de sistemas para os produtos portugueses.

Um ambiente equilibrado e com saúde permite o crescimento de seres aquáticos também saudáveis, que farão parte de uma alimentação adequada, proporcionando saúde aos animais e aos seres humanos, confirmando a moderna visão de Uma Saúde que todos queremos para o nosso mundo no futuro.

Para saber mais:

Método do Índice de Qualidade (QIM) para avaliação da qualidade do pescado: aplicações, limites e tendências futuras

Composição elementar do músculo do peixe-espada

Contacto: Professor Paulo Vaz-Pires (vazpires@icbas.up.pt)

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A ecologia das resistências aos antimicrobianos

A microbiologia tem dado um contributo decisivo para o desenvolvimento da perspetiva One Health, particularmente quando combinada com as avançadas ferramentas de genómica microbiana. Através delas, podemos investigar surtos (e.g. Salmonella spp., Campylobacter jejuni), vigiar variantes de microrganismos patogénicos ou compreender a circulação global de bactérias e genes de resistência entre o bioma humano, animal e ambiental. De facto, as espécies bacterianas que mais nos preocupam em termos de resistência (ESKAPE*) têm em comum três características: (i) conseguem colonizar mais do que uma espécie animal, (ii) comportam-se maioritariamente como comensais (i.e., são capazes de colonizar o intestino ou a pele de humanos e animais sem lhes causar qualquer doença) e (iii) têm uma ecorresistência notável, podendo sobreviver em superfícies inertes, no solo ou na água durante muito tempo. Conseguem, por isso, “viajar” entre diversos hospedeiros, demonstrando que sem uma visão holística não seremos capazes de as conter.

Ao abrigo desta perspetiva, o Laboratório microLAB do Departamento de Produção aquática do ICBAS – em colaboração com empresas, instituições e outros grupos de investigação – tem vindo a estudar:

1. A presença de Enterobacteriaceae multirresistentes em diferentes populações animais (frangos, gaivotas, aves de rapina, lobos, bivalves, ouriços-do-mar, coelhos, cães e gatos), em humanos (donos de animais de estimação) e no ambiente (estações de tratamento de águas residuais, rios, praias, lagos e fontenários da cidade);

2. A atividade antibacteriana de centenas de compostos químicos isolados em cianobactérias e fungos marinhos ou modificados/gerados por processos de síntese química, providenciados por grupos de investigação colaboradores;

3. A proximidade filogenética entre bactérias isoladas em humanos e bactérias obtidas em comboios e autocarros (Staphylococcus aureus resistentes à meticilina-MRSA) ou em frangos e cães (Campylobacter jejuni).

*Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter spp.

Para saber mais:

A Neofiscalina A e Fiscalina C são alcalóides indólicos com potencial terapêutico para tratar infecções bacterianas Gram-positivas multirresistentes

Campylobacter jejuni em diferentes populações caninas: características e potencial zoonótico

Atividade antimicrobiana e potencial de uma biblioteca de Tioxantonas como inibidores da bomba de efluxo

Contacto: Professor Paulo Martins da Costa (pmcosta@icbas.up.pt)

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