Investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) caracterizaram o potencial de emissão de gases com efeito de estufa em explorações de bovinos e descobriram diferenças significativas durante a fase de lactação que abrem “portas” para novas investigações.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora e primeira autora do estudo, Ana Raquel Rodrigues, esclareceu que a investigação se debruçou sobre as “emissões de gases com efeito de estufa (metano, óxido nitroso e dióxido de carbono) e amoníaco” em três explorações comerciais de bovinos de leite da região Norte.
Nas explorações, os investigadores recolheram amostras de fezes e de urina dos animais em diferentes fases da lactação, que foram posteriormente avaliados e caracterizados em laboratório, com recurso a “câmaras que simulam o pavimento” das explorações.
“Verificámos as diferentes fases de lactação dos animais, os tempos de recolha e o potencial de emissão das fezes e de urina ao longo do dia”, afirmou Ana Raquel Rodrigues.
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Apesar de “preliminares“, os resultados do estudo, publicado na revista científica Journal of Environmental Management, mostram “diferenças ao nível das emissões de óxido nitroso e amoníaco no pós-pico de lactação”.
Também à Lusa, o investigador e coordenador do estudo, Henrique Trindade, esclareceu que no “pós-pico de lactação” os animais bovinos “emitem emissões superiores” de gases com efeito de estufa, o que impõem um “maior cuidado”, em particular, na adaptação dos sistemas de limpeza dos dejetos.
“A limpeza é muitas vezes feita da parte da manhã porque a lógica é de manhã se fazerem quase os trabalhos todos. Estudando em pormenor, poderá concluir-se que se calhar é preferível limpar com mais frequência ao final do dia e não tanto de manhã”, referiu, destacando que “ocorrem mais emissões durante a tarde“.
Henrique Trindade destacou ainda que os resultados foram obtidos em laboratório a “temperaturas e taxas de ventilação constantes”, o que na prática poderá ainda ser mais significativo em termos de emissões de gases, uma vez que “as temperaturas são mais elevadas do meio-dia para a tarde do que da parte da manhã”.
À Lusa, o coordenador adiantou que a informação recolhida neste estudo, e noutros desenvolvidos no âmbito do programa de doutoramento de Ana Raquel Rodrigues, poderá ajudar a, por exemplo, “ajustar os sistemas de manejo das dejeções“.
“Com estes resultados podemos começar a olhar para outros aspetos, como a frequência de remoção e aplicação de aditivos que reduzem as emissões. Uma série de medidas de mitigação que já estão disponíveis na atividade e que podem ser focadas nos períodos em que sabemos que as emissões são superiores”, referiu, destacando também a importância das medidas de mitigação serem “flexíveis” ao longo de todo o dia.
Ana Raquel Rodrigues salientou também que a investigação “abre portas” para outros trabalhos, uma vez que os resultados permitiram “compreender um pouco melhor os animais, os seus metabolismos e a forma como as fezes e urinas se comportam quando depositadas no chão”.
“Esta investigação abre portas, mas mais trabalhos terão de ser feitos para conseguirmos resultados ajustados à realidade e serem aplicados na prática”, acrescentou a estudante do programa de doutoramento Sustainable Animal Nutrition and Feeding (SANFEED), cofinanciado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e dirigido pelo ICBAS
Além do ICBAS, o estudo contou com a colaboração de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu (ESA-IPV).
A investigação foi ainda realizada em parceira com Cooperativa Agrícola de Vila do Conde e a AGROS – União de Cooperativas de Produtores de Leite.
Fonte: Observador