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ICBAS e ISPUP lançam o site ‘Pet-OncoNet’ para proprietários de animais de companhia com cancro

O objetivo é que os donos encontrem informação “credível, rigorosa e útil”. Existem ainda dados sobre as raças de cães com maior predisposição para o desenvolvimento de tumores e formas de os detetar precocemente.

Docentes e investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) lançaram uma plataforma online destinada a proprietários de animais de companhia com cancro, que visa facultar informação “credível” e caracterizar fatores de risco associados ao desenvolvimento da doença.

Em declarações à Lusa, Kátia Pinello, docente no ICBAS e investigadora do ISPUP, esclareceu que o website, intitulado ‘Pet-OncoNet’, surge da lógica de ‘Uma Saúde’ (‘One Health’ em inglês) e da necessidade de preencher “uma lacuna de conhecimento nesta área”.

“Sentimos que os tutores se sentem perdidos ao lidar com o diagnóstico de cancro nos companheiros de quatro patas”, afirmou a investigadora, que é uma das coordenadoras do projeto. 

Lançada para facultar informação “credível, rigorosa e útil” sobre os animais de companhia, a plataforma digital contempla, por exemplo, dados sobre as raças de cães com maior predisposição para o desenvolvimento de tumores, formas de detetar precocemente o cancro no animal de estimação, mas também informação sobre os ensaios clínicos em curso e os procedimentos para apoiar o animal durante o tratamento.

“O nosso objetivo é criar uma comunidade que estude e partilhe informação sobre a oncologia veterinária em todos os aspetos”, referiu.

O website mostra que em Portugal, os principais tumores nos animais de companhia são localizados na pele, aos quais se seguem os tumores mamários.

Além de facultar informação, o objetivo da plataforma é também caracterizar os fatores de risco associados ao desenvolvimento de cancro nos animais e humanos.

“Cada vez mais, os animais são membros ativos da família. Essa mudança de atitude em relação aos animais faz com que se tornem bons modelos de investigação e considerados ‘sentinelas’ para o cancro, uma vez que estão mais próximos e partilham o mesmo ambiente que os humanos”, salientou. 

Para que seja possível avançar com a caracterização dos fatores de risco, os investigadores estão a convidar todos os tutores e proprietários de animais de companhia – gatos e cães – a responderem a um inquérito epidemiológico, que estará disponível no ‘site’ até ao final de outubro.

Os resultados obtidos no âmbito do inquérito serão posteriormente publicados no site da iniciativa.

Os investigadores querem ainda criar um “grupo de apoio psicológico” para ajudar os tutores a lidarem com o luto animal, questão que “ainda não é muito bem aceite”. 

“O luto animal tem implicações ao nível da saúde pública”, observou, acrescentando que “é importante saber enfrentar o luto animal”. 

Para poderem dar seguimento ao projeto, os investigadores necessitam, contudo, de ajuda financeira, estando prevista por isso a abertura de uma campanha de crowdfunding no website Pet-OncoNet.

O site, desenvolvido em parceria com a Oncowaf e financiado pelo fundo belga para animais com cancro, é uma das interfaces da rede Vet-OncoNet, lançada em dezembro de 2019, com o objetivo de reunir informação sobre neoplasias presentes em animais de companhia e criar um registo oncológico animal a nível nacional.

Com a colaboração dos médicos veterinários e dos laboratórios de diagnóstico que aderiram ao projeto, os investigadores tem conseguido criar um registo oncológico animal, sendo que o objetivo agora é envolver os proprietários nesta rede, por forma a compreender melhor os fatores de risco comuns para o desenvolvimento de cancro nos animais e seres humanos.

Fonte: CNN Portugal

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ICBAS anuncia vencedores do concurso ‘Perspetiva(s) sobre Uma Saúde’

Com o objetivo de promover e divulgar o conceito Uma Saúde por toda a comunidade e sociedade civil, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), em conjunto com o Instituto Português de Fotografia (IPF), organizou o Concurso de Fotografia ‘Perspetiva(s) sobre Uma Saúde’.

No contexto deste concurso, Teresa Nunes, fotógrafa no IPF, escreveu o seguinte texto, de forma a enquadrar e defender a fotografia enquanto ferramenta cultural:

‘Artivismo’ – a fotografia enquanto ferramenta cultural

A Arte sempre funcionou como um reflexo da sociedade, acompanhando a realidade ao longo dos tempos, registando-a, mas também agindo como um instrumento de mudança. É o chamado “artivismo”, um portmanteau [1] proveniente da junção das palavras “arte” e “activismo”. Há uma panóplia extensa de artistas, nas mais diversas disciplinas artísticas, que se assumem como artivistas, advogando nas mais distintas causas.

Naturalmente, a Fotografia não é exceção, afigurando-se como terreno fértil para artivistas. Ora numa primeira análise poder-se-á presumir que os fotógrafos relacionados com as questões do artivismo estarão ligados à fotografia documental e fotojornalismo, porém essa é uma visão redutora. Apesar de, efetivamente, essa área da fotografia, que prima pela representação do real sem manipulações ou alterações, ser bastante propensa ao artivismo, outros fotógrafos, que se afastam dos cânones do fotojornalismo, também se enquadram no conceito. Seja qual for a área da fotografia, atualmente os fotógrafos mobilizam-se pela capacidade da fotografia mostrar ao público e aos agentes políticos assuntos em que é necessária a intervenção e consciencialização da sociedade.

Anthony Luvera, que esteve, aliás, recentemente no Porto para falar na palestra “Fotografia e Ativismo Social”, no âmbito do ciclo de conversas Encontros do Olhar “Fragilidade – Transitoriedade”, organizado pelo Instituto Português de Fotografia, trabalha com indivíduos e grupos de pessoas marginalizados convidando-os a falar sobre as suas experiências, criando, com eles, projetos colaborativos em áreas como a saúde mental, as dependências, a situação de sem-abrigo e a comunidade LGBTQ+.

Eduardo Leal, com a sua série “Plastic Trees”, faz um retrato da poluição no Altiplano Boliviano, demonstrando a sua preocupação com as questões ambientais. O autor optou por uma estetização da poluição como alternativa aos meios tradicionais de denúncia, fotografando sacos de plástico, um dos itens de consumo mais utilizado e que acaba por se tornar uma das maiores fontes de poluição a nível mundial. Pretendeu com este trabalho chamar a atenção para o problema da poluição, focando-se numa zona onde milhares de sacos vagueiam ao sabor do vento até acabarem presos nos arbustos, danificando a paisagem.

Von Wong, mundialmente conhecido pelas suas obras hiper-realistas, encenadas e montadas com o auxílio da sua equipa e de uma imensidão de voluntários que se juntam ao artista em cada projeto. Este começa por montar grandiosos cenários para as suas fotografias que são sempre pensadas para alertar para temáticas como a poluição e o uso excessivo de plástico, reciclagem e bem-estar animal, entre outros.

Podemos verificar que muitos autores pugnam por diversas causas com que se identificam e que, ao olhos mais desatentos, poderão parecer desligadas e sem razão aparente para serem alvo de atenção das mesmas pessoas, porém, é cada vez mais comummente aceite que todos vivemos num planeta em que tudo está interligado e as questões de saúde humana, animal e do ambiente estão interligadas, explicando relações que poderiam, à primeira vista, parecer quase descabidas, é, afinal, o conceito de One Health.

É, pois, de concluir que a fotografia pode e deve ser entendida como uma ferramenta cultural capaz de comunicar uma mensagem de sensibilização e induzir a mudanças. Numa era em que a participação cívica se revela cada vez mais necessária para incentivar mudanças na sociedade em que vivemos, é cada vez mais comum ver fotógrafos que se juntam a essas causas a fim de fazer uso da sua ferramenta maior para os apoiar. 

[1] Palavra fantasista formada por elementos de outras duas (Dicionário infopédia de Inglês – Português [em linha]. Porto: Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/ingles-portugues/portmanteau)

Durante as comemorações do 47.º aniversário do ICBAS, realizadas no dia 5 de maio de 2022, a instituição aproveitou a ocasião para anunciar os vencedores do concurso.

Menção Honrosa:

Fotografia de Rui Maneiras, Alumno do ICBAS

Terceiro prémio:

Inês Martinho, Alumna do ICBAS

Segundo prémio:

Telma Costa, Alumna do ICBAS

Primeiro prémio:

Teresa Leão, Docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)
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Grande Porto é a região com mais gaivotas no país

Área Metropolitana está a traçar plano para responder ao fenómeno. Só nas cidades junto ao Douro há mais de mil aves e a reproduzir-se.

Nunca tantas gaivotas habitaram o Grande Porto. Haverá entre 1186 e 1626 gaivotas a sobrevoar os céus da Área Metropolitana do Porto (AMP), de acordo com o Censo Nacional da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). É o maior número de gaivotas em ambiente urbano do país. E com a reprodução das aves em crescendo, a tendência é para que os números continuem a subir. A maioria instalou-se no Porto, mas Matosinhos e Gaia também sofrem com o problema, que se traduz em riscos para a saúde pública. Está em elaboração um plano metropolitano para controlo da população de gaivotas, cujo relatório será publicado em breve.


Uma das medidas que podem estar em cima da mesa é uma eventual operação de retirada dos ovos dos ninhos. No entanto, tendo as gaivotas um ciclo médio de vida de 20 anos, o resultado desse trabalho demorará a revelar-se. “Nos finais dos anos 90, as gaivotas começaram a expandir-se para norte e exclusivamente para meio urbano. Quando se reproduzem num local com sucesso, voltam sempre”, nota Nuno Oliveira, técnico de conservação marinha da SPEA. A retirada dos ovos será sempre “um processo moroso, que requer recursos humanos e financeiros”, acrescenta, alertando que durante os primeiros três ou quatro anos de vida, as gaivotas não se reproduzem.


Fonte de Contaminação
O fácil acesso a alimentos é o principal motivo para a deslocação das gaivotas do Centro e Sul para o Norte do país e a sua reprodução incessante representa riscos para a saúde pública. É esse mesmo o alerta que faz Adriano Bordalo e Sá, hidrobiólogo e investigador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS): “Têm, nos excrementos, as mesmas bactérias patogénicas que nós e são uma fonte clara de contaminação da água, dos solos, e de transmissão de doenças”.


“A explosão da disponibilidade alimentar”, quase “sem limitação”, conduz ao aumento da população de gaivotas, aponta Nuno Oliveira, que observa “um grande esforço na melhoria da gestão de resíduos e armazenamento temporário”. Também os desperdícios da pesca alimentam estes animais, particularmente graças à quantidade de peixe já morto que é devolvido ao mar.


“É alimento gratuito para as gaivotas. E há oito mil embarcações de pesca no país”, nota Nuno Oliveira. O primeiro passo, diz Bordalo e Sá, é o lançamento de “uma campanha para não alimentar as gaivotas, da mesma maneira que já houve uma para não alimentar os pombos”. Nuno Oliveira concorda.


Para decidir estratégias de combate ao problema, a AMP lançou, há dois anos, um concurso público, com um preço-base de 135 mil euros, para a elaboração de um plano de controlo da população. Esse trabalho estará no fim.


O último estudo, conhecido em 2011, apontava como uma das soluções a diminuição de alimento disponível.

Fonte: Jornal de Notícias
Texto: Adriana Castro

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ICBAS e CMIN lançam livro para prevenir a obesidade e a diabetes pediátricas

Foi lançado no passado dia 4 de março, Dia Mundial da Obesidade, o livro Cuida de Ti – Orientações para Uma Vida Saudável, no âmbito do projeto com o mesmo nome, desenvolvido pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), em conjunto com o Centro Materno Infantil do Norte (CMIN).

Vencedor do Prémio “Comunicar Saúde” da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, pela contribuição para a literacia em saúde da população, o projeto “Cuida de Ti – Orientações para Uma Vida Saudável” tem por objetivo alertar para os perigos da obesidade e diabetes pediátricas, salientando a importância do diagnóstico precoce, assim como a implementação de medidas para evitar o desenvolvimento de doença crónica na vida adulta.

“A obesidade infantil e a diabetes, que está diretamente associada, é um dos principais problemas de saúde das crianças e dos adolescentes. É um problema que em Portugal tem uma dimensão muito preocupante, com taxas de excesso de peso e de obesidade muito próximas do 30%, o que coloca Portugal como um dos países com maior incidência da doença”, alerta Alberto Caldas Afonso, professor do ICBAS, Diretor do CMIN e responsável pelo projeto.

É neste contexto que o livro pretende ajudar a esclarecer conceitos e dúvidas, para que todos possam compreender como se pode adotar um estilo de vida mais saudável.  Os conteúdos foram desenvolvidos por uma equipa multidisciplinar, com o objetivo de poderem ser apreendidos e difundidos pelo maior número de pessoas.

O “Cuida de ti- Orientações para uma vida saudável” é destinado a todas as crianças, adolescentes, famílias e escolas, e através de conteúdos simples, apelativos e didáticos alerta para a importância de um diagnóstico precoce e da instituição de medidas que possam evitar o condicionamento de doença crónica na vida adulta.

“Este livro aposta em conteúdos facilmente compreensíveis, muito práticos e que vão permitir a sua utilização no dia a dia. Para os mais novos, foi também concebido um jogo interativo que os desafia nas respostas as questões veiculadas no livro”, explica o coordenador da obra.

Tendo em conta o impacto das redes sociais nos adolescentes, foram ainda desenvolvidos vídeos com dois ‘influencers’ – a atriz Madalena Aragão e o jogador do Futebol Clube do Porto, Francisco Conceição -, que mostram como a alimentação e a prática de exercício físico lhes permitem manter uma ótima performance diária.

Para chegar às comunidades escolares de todo o país, o ICBAS associou-se à Missão Continente, que incluiu o livro nos conteúdos do seu programa educativo (Escola Missão Continente). Desta forma, pretende-se reforçar a mensagem da importância de uma alimentação e estilos de vida saudáveis às turmas do Pré-Escolar, 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico.

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Mês para a consciencialização ‘One Health’

Janeiro foi o mês para a consciencialização ‘Uma Saúde’ e, por isso, considerámos esta uma excelente ocasião para convidar os Professores Carlos Vasconcelos, Luísa Valente e Adriano Bordalo e Sá, membros da comissão ‘Uma Saúde’ do ICBAS a escrever a sua visão sobre as várias perspetivas do conceito, aplicado à realidade da medicina humana, animal e da saúde do ambiente.

‘One Health sob a perspectiva médica –  Saúde humana’

Sim, todos sabemos, quando paramos para pensar sobre o assunto, que não estamos sós no planeta. Mas no dia-a-dia atuamos como se estivessemos. A não ser que… as “coisas” se nos imponham, como é o caso da pandemia COVID-19. Um micróbio, o vírus SARS-CoV-2, sai do seu reino e, mais rápido que Gengis Khan, põe a velha e altamente civilizada europa, todo o mundo ocidental, aliás, todo mundo, paralisado na economia (então e os banqueiros tão importantes?!), na educação (valeu-nos a realidade virtual…) e no turismo (tantos aviões parados, tanta gente sem trabalho…). Em suma, mexeu com toda a nossa vida, as grandes e as pequenas coisas, os pequenos e os poderosos.

Como foi possível? A resposta é só uma, clara e óbvia (como podemos ser tão estúpidos?!): no nosso mundo TERRA tudo está interconectado, o maior animal com o mais pequeno micróbio, as árvores, o vento e o sol, eu, tu, o negro da África, o amarelo da China, o vermelho da América, o mais inteligente e o mais inculto, a bela princesa e o monstro, o rico e o pobre, todos estamos ligados.

O que cada um fizer, a rede interconetada saberá, sentirá, adaptar-se-á, e pur si muove…

Tratamos o mundo como se fossemos donos absolutos, nas “tintas” para tudo o resto. E, pelo menos por agora, sabemos que não o devemos fazer.

É urgente este tempo de mudar. Todos nós, cada um de nós, não poderá duvidar da sua responsabilidade nesta luta pela continuação da vida na Terra.

Na saúde humana muitas são as atitudes que devem sofrer o vento da mudança, a começar por ver à nossa volta – não apenas olhar! –  e reconhecer os outros, seres vivos e ambiente. E mudar práticas, como o uso inadequado de antibióticos na comunidade e, também,  no hospital, gerando estirpes microbianas mais resistentes e estimulando, num ciclo vicioso, o investimento na investigação e recursos financeiros, que poderiam ser dirigidos para objetivos mais úteis à saúde humana.

O conceito Uma Saúde, eleva à máxima potência a necessidade de articulação entre todos os que podem contribuir para melhorar e, mais ainda, prevenir uma saúde global. Entre os profissionais de saúde, em especial os médicos, na comunidade e nos hospitais, não podem limitar-se a tratar bem “a doença”. Têm de ver o doente na sua globalidade, em que meio vive, o que come, que exercício faz, como se integra na família e na sociedade. É preciso perceber as causas que levaram à doença: foi relacionado com a alimentação, com a água que bebe ou bebeu, com os animais com que contata ou contatou, com o ambiente em que desenvolve o seu trabalho, ou com aquela viagem aos confins do mundo com que tanto sonhou?

Como médico há 45 anos, estou numa priveligiada situação para dizer: não podemos continuar assim meus caros colegas! Temos ser mais globais, mais integradores e tentar, sempre, perceber o que pode estar por trás da doença que tão bem diagnosticamos e tratamos. Isso não basta. A bem de Uma Saúde temos de pensar e atuar mais profundamente e, acima de tudo, estar interligado com todos os outros intervenientes da dimenção SAÚDE. Só assim teremos amanhã para os nossos descendentes.

Carlos Vasconcelos, Médico Especialista em Medicina Interna e Professor Catedrático convidado do ICBAS

Promover a saúde animal e humana

A saúde animal adquiriu uma importância sem paralelo. Com a pandemia COVID-19 ficou bem evidenciada a interligação entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a segurança alimentar.

Mais esquecida, porém, está uma outra luta com a qual nos debatemos diariamente, embora bem mais silenciosa: a resistência aos antibióticos. Trata-se de um desafio da maior relevância para atingir os objetivos elencados no Plano de Ação Europeu de “Uma Só Saúde” e na Estratégia do Prado ao Prato que levou, a partir do início deste ano, a serem aplicáveis novas regras para promover a saúde animal e combater a resistência antimicrobiana.

Limitar o recurso a antibióticos a situações de extrema necessidade é uma prioridade, tendo a União Europeia estabelecido como meta a sua redução para metade até 2030. Esta aposta começou já na produção animal, incluindo a aquacultura, onde a seleção de estirpes mais robustas, bem como a adoção de melhores práticas de cultivo, incluindo a vacinação, melhor higiene e adequação das condições ambientais à produção de cada espécie, são já uma prática corrente. Têm-se ainda desenvolvido estratégias eficazes para a prevenção de doenças, através do novo conceito de nutrição de precisão, onde as dietas são formuladas de forma rigorosa e personalizada para responder às exigências nutricionais de cada animal.

Atualmente recorrem-se a tecnologias de ponta (sensores, tecnologias de informação, inteligência artificial) capazes de monitorizar em tempo real o estado fisiológico do animal permitindo integrar um grande volume de dados e converte-los em tomadas de decisão rápidas e assertivas que antecipam cenários. O resultado destas boas práticas traduz-se no aumento da eficiência da produção e do bem-estar animal, minimizando o impacto no ambiente. Por outro lado, o controlo total da cadeia de valor do setor agroalimentar permite hoje garantir a rastreabilidade dos produtos e a segurança alimentar do consumidor

A produção animal tem apostado de forma crescente na utilização de dietas sustentáveis e funcionais com dois objetivos. Por um lado, a inclusão de suplementos que oferecem benefícios à saúde do animal, o que permite aumentar a sua capacidade de resistência a condições ambientais desafiadoras (temperaturas mais extremas, menor disponibilidade de água e águas mais ácidas). Por outro lado, podem ser depositados no músculo e ou no leite, e aumentar o valor nutricional destes produtos.

As preocupações dos consumidores com o valor nutricional dos alimentos são cada vez maiores. A procura de produtos com alegações específicas como sejam “fonte de selénio” ou “rico em ómega-3” é uma tendência global, à qual a produção animal tem, através de novas fórmulas, direcionado a diferentes grupos etários (crianças e idosos), ou estados de saúde.

Por isso, podem hoje ser encontrados alimentos ricos em ómega-3, em iodo e selénio, em ferro e outros minerais que, contrariamente às soluções inorgânicas disponíveis em farmácias, são facilmente assimiláveis, e por isso melhor utilizados pelo nosso organismo e mais saudáveis. Os suplementos alimentares na produção animal serão assim uma tendência crescente, que permitirá mitigar os desafios associados às alterações climáticas e contribuir para a produção de alimentos saudáveis e seguros.

Por fim gostava de mencionar o impacto das nossas escolhas alimentares no ambiente. Portugal é um país deficitário na produção da maioria dos produtos agrícolas que consome, incluindo carne, frutos, cereais (exceto arroz), leguminosas e oleaginosas. Ou seja, temos que importar estes produtos. Os transportes continuam a ser uma fonte significativa de poluição atmosférica, prejudicando o ambiente e a saúde humana. A escolha de produtos locais e sustentáveis deverá constituir-se como uma responsabilidade individual e um contributo de cada um para um planeta mais saudável.

Luísa M.P. Valente, Professora Associada do ICBAS

O Ambiente no conceito One Health

A Biosfera é a fina camada do nosso Planeta onde existe vida desde há 4 mil milhões de anos. De então para cá, os seres vivos experimentaram períodos de forte desenvolvimento, intercalados com outros de avassaladoras extinções. O Homo sapiens sapiens veio baralhar os processos naturais, fruto da enorme pressão exercida sobre o ambiente, agora à escala global. Da sobrevivência equilibrada no passado, passou-se para uma intervenção directa, onde imperam diversos interesses, entre os quais os económicos, à medida que a visão antropocêntrica do Planeta se consolidou.

A ideia de desenvolvimento sustentável surge em 1987, pela mão das Nações Unidas, face à escalada da acção do Homem sobre o Ambiente. Hoje, mais do que uma peça de retórica, é imperioso satisfazer as carências presentes de um mundo em mudança, sem por em risco o legado e as necessidades das gerações vindouras.

Nos dias que correm, temos cada vez mais a percepção de que tudo está interligado. Se por um lado a nossa actividade afecta o Ambiente, este continua a afectar o Homem, desde sempre e a degradação da Biosfera tem, inexoravelmente, efeitos dramáticos sobre a saúde humana, animal e vegetal.

Esta visão está, claramente, plasmada no conceito One Health, em que a saúde do Ambiente é uma das componentes chave e, cada vez mais, colocada na ordem do dia.

Adriano A. Bordalo e Sá, Director do Departamento de Estudos de Populações do ICBAS

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Vigilância da saúde de animais é fundamental para evitar transmissão de doenças a seres humanos

De tudo o que sabe até hoje, e que vai muito para além das teorias da conspiração, o SARS-CoV-2, o vírus que provoca a COVID-19 teve origem num animal. Os peritos da Organização Mundial de Saúde enviados a Wuhan, na China, concluíram que o cenário mais provável é de uma origem zoológica, através de um hospedeiro intermediário, fosse ele um morcego ou outro animal que ainda não foi identificado. O que veio mostrar quão essencial é vigiar os vírus nos animais de forma a evitar o contágio de seres humanos. É a chamada abordagem integrada da saúde que liga ambiente, animais e o Homem e que o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, já faz.

Veja a reportagem completa no site da RTP.

Fonte: RTP Notícias

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Semana Mundial para a Sensibilização das Resistências aos Antimicrobianos

O contributo das Universidades para a sensibilização das resistências aos antimicrobianos

De 18 a 24 de novembro decorreram, na Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), diversas iniciativas para assinalar a Semana Mundial para a Sensibilização das Resistências aos Antimicrobianos.

Tendo em conta o tema escolhido este ano “Spread Awareness, Stop Resistance/ Espalhe a consciência, pare a resistência”, a DGAV recolheu alguns testemunhos em vídeo, de diferentes personalidades e profissionais representando diversas perspectivas sobre o impacto das Resistências aos antimicrobianos na Saúde Publica, na Saúde Animal e no meio ambiente.

O Professor João Niza Ribeiro, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, neste vídeo, destaca o contributo das Universidades para a sensibilização das resistências aos antimicrobianos e para a aplicação das boas práticas para o uso responsável dos antimicrobianos, através da formação dos profissionais na área da produção animal, bem como ainda, através da colaboração com as autoridades para desenvolver e melhorar sistemas que permitam aos sectores da agropecuária responder ao grande desafio da diminuição da utilização destes fármacos.

Fonte: DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária

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ICBAS juntou investigação da cidade do Porto em nome de One Health

Um painel diversificado de especialistas das várias áreas da saúde (humana, animal e ambiental) juntou-se, no passado dia 3 de novembro (Dia Internacional One Health), para debater a abordagem Uma Saúde. O palco foi o “1st Porto One Health Day”, organizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto em colaboração com diferentes unidades de investigação da cidade (CECA, CIIMAR, CIBIO-InBIO, CI-IPOP, FCUP, ISPUP, i3S, REQUIMTE, UMIB).

A abordagem One Health – Uma Saúde reconhece a ligação entre pessoas, animais, plantas e o ambiente, e tem como objetivo dar uma resposta científica e técnica que possibilite prevenir, detetar, conter, eliminar e responder a ameaças para a saúde pública causadas por agentes e eventos perigosos para a saúde humana e animal.

Foi sob esta perspetiva que se focaram as nove sessões do 1st Porto One Health Day, versando sobre vários temas que concentram em si uma visão holística da saúde: segurança alimentar, alterações climáticas, interação entre humanos e animais, resistência a antibióticos, impacto dos oceanos na saúde humana, impacto da pandemia nos doentes com cancro, HIV e doenças emergentes.

Este foi um encontro verdadeiramente transdisciplinar onde se discutiu um assunto cada vez mais atual. O objetivo da comissão organizadora foi cumprido: “juntar as principais Unidades de Investigação do Porto para discutir juntos problemas de saúde pela perspetiva One Health, com o propósito de identificar soluções reais e potenciais parcerias”.

Uma Saúde ou o “caminho” para “restaurar o nosso planeta”

O evento contou com a participação da cofundadora da One Health Initiative, a norte-americana Laura H. Kahn. “One Health analysis of food safety and security, antimicrobial Resistance, and Climate Change in the 21st Century” foi o título da apresentação que demonstrou a transversalidade e aplicabilidade deste conceito.

“Temos urgência em restaurar o nosso planeta. O conceito Uma Saúde, que reconhece que a vida na terra está interligada, deve ser o caminho. Para isso devemos educar as novas gerações neste sentido. Uma Saúde deve ser a base não só da investigação científica, mas também do desenvolvimento de políticas, da educação e da literacia”, destacou a médica e investigadora em políticas de saúde.

O diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho, encerrou o evento com a certeza de que “o segundo passo desta longa jornada que agora iniciamos será a concretização de reflexões de consenso sobre os temas debatidos, que nos permitirão, em sequência, chegar aos decisores, que na sua maioria ainda não tem noção da importância deste alerta que agora evocamos.”

“A saúde merece o nosso cuidado extremo, porque é a génese de equilíbrio e sustentabilidade. Não vamos baixar os braços enquanto sentirmos que, ainda que de forma ténue, estamos a trabalhar para a procura desse equilíbrio”, concluiu o responsável.

Um evento local, mas internacional

O evento teve um formato híbrido, sendo todas as palestras presenciais e também transmitidas on-line e em direto. A conferência foi reconhecida e partilhada pela iniciativa internacional One Health Day, recebendo mais de 300 inscrições on-line. Nestas inscrições, estiveram representadas um total de 83 instituições, das quais, 69 portuguesas e 17 estrangeiras. O evento teve participantes do Brasil, Canadá, Equador, Espanha, Estados Unidos, Etiópia, Finlândia, Itália, Irlanda, Noruega, Reino Unido e Suécia, o que reforça o interesse, abrangência e relevância do conceito One Health a nível internacional.

Texto: Begoña Pérez Cabezas (Adatação ‘Notícias da Universidade do Porto’)

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Aquacultura made in Portugal reúne consórcio nacional na produção de pregado e robalo

Um consórcio de entidades nacionais juntou-se no projeto “OmegaPeixe” com o intuito de produzir pregado e robalo, duas das espécies mais relevantes no sul da Europa, de forma otimizada e ambientalmente sustentável e por forma a aumentar o consumo de ómega-3, fonte de nutrientes.

“É a primeira vez que se aposta na produção nacional de pescado enriquecido com ómega-3. O objetivo é triplo: responder à alta procura por alimentos ricos neste nutriente, com benefícios comprovados para a saúde humana, incluindo uma forte ação anti-inflamatória com prevenção de doenças cardiovasculares, neuro degenerativas, diabetes, e em estados depressivos; respeitar o bem-estar animal e o ambiente e, ao mesmo tempo, estimular a aquacultura sustentável made in Portugal”, refere Renata Serradeiro, CEO da Acuinova

“O nosso objetivo é fornecer ao consumidor um pescado diferenciado, com alto valor nutricional, em particular com elevado teor de ómega-3 de cadeia longa (EPA e DHA), produzido de forma sustentável recorrendo a uma seleção criteriosa de ingredientes com um preço acessível”, salienta a mesma fonte.

“Um dos objetivos do projeto é disponibilizar pescado de elevada qualidade aos consumidores, sem aumentar significativamente o preço de venda” explica Helena Abreu, fundadora e Diretora Geral da ALGAplus, o consórcio engloba a empresa ALGAplus, a atuar na área da aquacultura integrada, que será responsável pela produção de robalo bio.

Além da Acuinova e da ALGAplus, participam no projeto o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto (UP),com competências internacionais na área da Aquacultura, Laboratório Colaborativo para a Bioeconomia Azul (CoLAB B2E), um dos 26 laboratórios colaborativos nacionais criados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e acompanhados pela Agência Nacional de Inovação. O consórcio conta com o apoio da Riasearch e da Sparos, empresas especialistas em Investigação e Desenvolvimento em aquacultura, para a execução do projeto.

“A aquacultura nacional e europeia é uma resposta exemplar no que diz respeito à segurança alimentar, qualidade, frescura, bem-estar dos animais e legislação. É de salientar que o uso de hormonas e antibióticos para promover o crescimento animal está banido da UE há duas décadas, e nunca foi prática corrente na aquacultura europeia”, reforça Elisabete Matos, Coordenadora Técnico-Científica do CoLAB B2E.

Para Elisabete Matos, “o futuro passa cada vez mais por encontrar soluções adaptadas ao ambiente, aos animais, e à procura e às necessidades do mercado: uma sustentabilidade transversal”, prevê.

O ICBAS será responsável pela avaliação do impacto de dietas de acabamento, ou seja, direcionadas à fase anterior à sua pesca, no perfil nutricional de cada espécie em estudo. “Estas dietas serão otimizadas para cada uma das espécies, com recurso a modelos matemáticos e ao programa inteligente FEEDNETICS, desenvolvido em Portugal num projeto de I&D anterior pela Sparos, de forma a selecionar os ingredientes com maior potencial funcional e sustentabilidade económica. No final, serão propostos protocolos de alimentação específicos para pregado e para robalo”, refere a investigadora Luísa Valente.

Atualmente, a economia do mar cresce ao dobro da velocidade da economia nacional. De acordo com a Conta Satélite do Mar, desenvolvida pela Direção-Geral de Políticas do Mar e pelo INE, entre 2016 e 2018 o setor azul subiu 18,5% em Valor Acrescentado Bruto (VAB) e 8,3% em emprego. Já a economia nacional cresceu 9,6% em VAB e 3,4% em emprego.

O setor da pesca, aquacultura, transformação e respetiva comercialização é responsável por 25,1% deste VAB e pela criação de mais de 60 mil postos de trabalho. Estima-se que, em 2018, o impacto direto e indireto da economia do mar na economia nacional se tenha traduzido em 5,4% do VAB e 5,1% do Produto Interno Bruto. Todo este impacto económico é conseguido com impactos ambientais muito reduzidos quando comparado com outras atividades económicas.

O projeto “OmegaPeixe” terá um investimento total de cerca de um milhão de euros, dos quais quase 666 mil euros serão suportados pelo Portugal 2020 e pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, da União Europeia, através do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico. Os trabalhos irão decorrer ao longo de dois anos e meio.

Fonte: SAPO Lifestyle

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Praias fluviais não cumprem as normas

As autarquias não aceitam os maus resultados. 

A Universidade do Porto alega que as praias fluviais de Gaia e de Gondomar não cumprem os parâmetros de qualidade da água. As autarquias, porém, defendem que as análises dizem o contrário. 

Os banhistas parecem sentir uma espécie de falsa segurança numa praia que é equipada e vigiada, mas que não é sequer considerada pela Agência Portuguesa do Ambiente como praia fluvial devido ao histórico de maus resultados na qualidade da água.

Fonte: SIC Notícias

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