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Semana Mundial para a Sensibilização das Resistências aos Antimicrobianos

O contributo das Universidades para a sensibilização das resistências aos antimicrobianos

De 18 a 24 de novembro decorreram, na Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), diversas iniciativas para assinalar a Semana Mundial para a Sensibilização das Resistências aos Antimicrobianos.

Tendo em conta o tema escolhido este ano “Spread Awareness, Stop Resistance/ Espalhe a consciência, pare a resistência”, a DGAV recolheu alguns testemunhos em vídeo, de diferentes personalidades e profissionais representando diversas perspectivas sobre o impacto das Resistências aos antimicrobianos na Saúde Publica, na Saúde Animal e no meio ambiente.

O Professor João Niza Ribeiro, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, neste vídeo, destaca o contributo das Universidades para a sensibilização das resistências aos antimicrobianos e para a aplicação das boas práticas para o uso responsável dos antimicrobianos, através da formação dos profissionais na área da produção animal, bem como ainda, através da colaboração com as autoridades para desenvolver e melhorar sistemas que permitam aos sectores da agropecuária responder ao grande desafio da diminuição da utilização destes fármacos.

Fonte: DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária

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ICBAS juntou investigação da cidade do Porto em nome de One Health

Um painel diversificado de especialistas das várias áreas da saúde (humana, animal e ambiental) juntou-se, no passado dia 3 de novembro (Dia Internacional One Health), para debater a abordagem Uma Saúde. O palco foi o “1st Porto One Health Day”, organizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto em colaboração com diferentes unidades de investigação da cidade (CECA, CIIMAR, CIBIO-InBIO, CI-IPOP, FCUP, ISPUP, i3S, REQUIMTE, UMIB).

A abordagem One Health – Uma Saúde reconhece a ligação entre pessoas, animais, plantas e o ambiente, e tem como objetivo dar uma resposta científica e técnica que possibilite prevenir, detetar, conter, eliminar e responder a ameaças para a saúde pública causadas por agentes e eventos perigosos para a saúde humana e animal.

Foi sob esta perspetiva que se focaram as nove sessões do 1st Porto One Health Day, versando sobre vários temas que concentram em si uma visão holística da saúde: segurança alimentar, alterações climáticas, interação entre humanos e animais, resistência a antibióticos, impacto dos oceanos na saúde humana, impacto da pandemia nos doentes com cancro, HIV e doenças emergentes.

Este foi um encontro verdadeiramente transdisciplinar onde se discutiu um assunto cada vez mais atual. O objetivo da comissão organizadora foi cumprido: “juntar as principais Unidades de Investigação do Porto para discutir juntos problemas de saúde pela perspetiva One Health, com o propósito de identificar soluções reais e potenciais parcerias”.

Uma Saúde ou o “caminho” para “restaurar o nosso planeta”

O evento contou com a participação da cofundadora da One Health Initiative, a norte-americana Laura H. Kahn. “One Health analysis of food safety and security, antimicrobial Resistance, and Climate Change in the 21st Century” foi o título da apresentação que demonstrou a transversalidade e aplicabilidade deste conceito.

“Temos urgência em restaurar o nosso planeta. O conceito Uma Saúde, que reconhece que a vida na terra está interligada, deve ser o caminho. Para isso devemos educar as novas gerações neste sentido. Uma Saúde deve ser a base não só da investigação científica, mas também do desenvolvimento de políticas, da educação e da literacia”, destacou a médica e investigadora em políticas de saúde.

O diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho, encerrou o evento com a certeza de que “o segundo passo desta longa jornada que agora iniciamos será a concretização de reflexões de consenso sobre os temas debatidos, que nos permitirão, em sequência, chegar aos decisores, que na sua maioria ainda não tem noção da importância deste alerta que agora evocamos.”

“A saúde merece o nosso cuidado extremo, porque é a génese de equilíbrio e sustentabilidade. Não vamos baixar os braços enquanto sentirmos que, ainda que de forma ténue, estamos a trabalhar para a procura desse equilíbrio”, concluiu o responsável.

Um evento local, mas internacional

O evento teve um formato híbrido, sendo todas as palestras presenciais e também transmitidas on-line e em direto. A conferência foi reconhecida e partilhada pela iniciativa internacional One Health Day, recebendo mais de 300 inscrições on-line. Nestas inscrições, estiveram representadas um total de 83 instituições, das quais, 69 portuguesas e 17 estrangeiras. O evento teve participantes do Brasil, Canadá, Equador, Espanha, Estados Unidos, Etiópia, Finlândia, Itália, Irlanda, Noruega, Reino Unido e Suécia, o que reforça o interesse, abrangência e relevância do conceito One Health a nível internacional.

Texto: Begoña Pérez Cabezas (Adatação ‘Notícias da Universidade do Porto’)

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Aquacultura made in Portugal reúne consórcio nacional na produção de pregado e robalo

Um consórcio de entidades nacionais juntou-se no projeto “OmegaPeixe” com o intuito de produzir pregado e robalo, duas das espécies mais relevantes no sul da Europa, de forma otimizada e ambientalmente sustentável e por forma a aumentar o consumo de ómega-3, fonte de nutrientes.

“É a primeira vez que se aposta na produção nacional de pescado enriquecido com ómega-3. O objetivo é triplo: responder à alta procura por alimentos ricos neste nutriente, com benefícios comprovados para a saúde humana, incluindo uma forte ação anti-inflamatória com prevenção de doenças cardiovasculares, neuro degenerativas, diabetes, e em estados depressivos; respeitar o bem-estar animal e o ambiente e, ao mesmo tempo, estimular a aquacultura sustentável made in Portugal”, refere Renata Serradeiro, CEO da Acuinova

“O nosso objetivo é fornecer ao consumidor um pescado diferenciado, com alto valor nutricional, em particular com elevado teor de ómega-3 de cadeia longa (EPA e DHA), produzido de forma sustentável recorrendo a uma seleção criteriosa de ingredientes com um preço acessível”, salienta a mesma fonte.

“Um dos objetivos do projeto é disponibilizar pescado de elevada qualidade aos consumidores, sem aumentar significativamente o preço de venda” explica Helena Abreu, fundadora e Diretora Geral da ALGAplus, o consórcio engloba a empresa ALGAplus, a atuar na área da aquacultura integrada, que será responsável pela produção de robalo bio.

Além da Acuinova e da ALGAplus, participam no projeto o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto (UP),com competências internacionais na área da Aquacultura, Laboratório Colaborativo para a Bioeconomia Azul (CoLAB B2E), um dos 26 laboratórios colaborativos nacionais criados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e acompanhados pela Agência Nacional de Inovação. O consórcio conta com o apoio da Riasearch e da Sparos, empresas especialistas em Investigação e Desenvolvimento em aquacultura, para a execução do projeto.

“A aquacultura nacional e europeia é uma resposta exemplar no que diz respeito à segurança alimentar, qualidade, frescura, bem-estar dos animais e legislação. É de salientar que o uso de hormonas e antibióticos para promover o crescimento animal está banido da UE há duas décadas, e nunca foi prática corrente na aquacultura europeia”, reforça Elisabete Matos, Coordenadora Técnico-Científica do CoLAB B2E.

Para Elisabete Matos, “o futuro passa cada vez mais por encontrar soluções adaptadas ao ambiente, aos animais, e à procura e às necessidades do mercado: uma sustentabilidade transversal”, prevê.

O ICBAS será responsável pela avaliação do impacto de dietas de acabamento, ou seja, direcionadas à fase anterior à sua pesca, no perfil nutricional de cada espécie em estudo. “Estas dietas serão otimizadas para cada uma das espécies, com recurso a modelos matemáticos e ao programa inteligente FEEDNETICS, desenvolvido em Portugal num projeto de I&D anterior pela Sparos, de forma a selecionar os ingredientes com maior potencial funcional e sustentabilidade económica. No final, serão propostos protocolos de alimentação específicos para pregado e para robalo”, refere a investigadora Luísa Valente.

Atualmente, a economia do mar cresce ao dobro da velocidade da economia nacional. De acordo com a Conta Satélite do Mar, desenvolvida pela Direção-Geral de Políticas do Mar e pelo INE, entre 2016 e 2018 o setor azul subiu 18,5% em Valor Acrescentado Bruto (VAB) e 8,3% em emprego. Já a economia nacional cresceu 9,6% em VAB e 3,4% em emprego.

O setor da pesca, aquacultura, transformação e respetiva comercialização é responsável por 25,1% deste VAB e pela criação de mais de 60 mil postos de trabalho. Estima-se que, em 2018, o impacto direto e indireto da economia do mar na economia nacional se tenha traduzido em 5,4% do VAB e 5,1% do Produto Interno Bruto. Todo este impacto económico é conseguido com impactos ambientais muito reduzidos quando comparado com outras atividades económicas.

O projeto “OmegaPeixe” terá um investimento total de cerca de um milhão de euros, dos quais quase 666 mil euros serão suportados pelo Portugal 2020 e pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, da União Europeia, através do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico. Os trabalhos irão decorrer ao longo de dois anos e meio.

Fonte: SAPO Lifestyle

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Praias fluviais não cumprem as normas

As autarquias não aceitam os maus resultados. 

A Universidade do Porto alega que as praias fluviais de Gaia e de Gondomar não cumprem os parâmetros de qualidade da água. As autarquias, porém, defendem que as análises dizem o contrário. 

Os banhistas parecem sentir uma espécie de falsa segurança numa praia que é equipada e vigiada, mas que não é sequer considerada pela Agência Portuguesa do Ambiente como praia fluvial devido ao histórico de maus resultados na qualidade da água.

Fonte: SIC Notícias

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Investigadores detetam bactérias patogénicas em praias do Norte

Investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), no Porto, detetaram bactérias patogénicas, algumas até resistentes a antibióticos, nas águas de praias balneares do Norte do país, que acreditam serem impulsionadas pelas alterações climáticas.

Numa publicação no ‘site’ da Universidade do Porto, o gabinete de comunicação do ICBAS afirma que os resultados foram obtidos no âmbito do projeto BeachSafe, que estuda a presença de agentes microbianos em 10 praias do Norte: Afife, Ofir, Póvoa do Varzim, Árvore, Matosinhos, Salgueiros, Aguda, Paramos, Cortegaça e São Jacinto.


Segundo o ICBAS, as alterações climáticas, nomeadamente o aumento da temperatura, variações da salinidade e concentração de partículas na água, “parecem ser responsáveis” pela propagação destas bactérias, que representam “um risco não contabilizado para a saúde pública”, dado que a avaliação oficial é feita tendo por base indicadores fecais.

“O número de infeções relacionadas com a água balnear em todo o mundo, incluindo na Europa, tem vindo a crescer nos últimos anos”, refere o instituto da Universidade do Porto, acrescentando que grande parte dos casos se associa a “bactérias autóctones” e “vírus entéricos”.

“A maioria dos casos está associada a bactérias autóctones que encontram condições favoráveis para se propagarem, devido às alterações climáticas, ou a vírus entéricos, em resultado das descargas de águas residuais brutas ou deficientemente tratadas”, esclarece o ICBAS.

O projeto BeachSafe, liderado por investigadores do Laboratório de Hidrobiologia e Ecologia do ICBAS, é cofinanciado pelo programa COMPETE2020, Portugal 2020, pela União Europeia através do FEDER e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Fonte: Jornal de Notícias
Foto: Paulo Novais (Lusa)

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Pandemias: isto é só o começo?

Grande parte das doenças infecciosas tem origem animal. Um agente patogénico dá a volta ao Mundo num corpo humano em pouco tempo. O debate reacende-se. O que comemos? Como tratamos os ecossistemas e as reservas selvagens? Como perceber que a saúde dos animais é a saúde dos homens? Para onde nos conduz a globalização?

É uma matéria complexa com vários ângulos. Mas com uma certeza: quase 70% das doenças infecciosas que atingiram o homem, nas últimas décadas, têm origem animal. E haverá cerca de 1,7 milhões de vírus por descobrir na vida selvagem. O problema não será tanto o que está dentro dos animais. A questão é o que a humanidade faz ou deixa de fazer uma vez que as doenças são e sempre serão uma ameaça. A ciência estuda e produz conhecimento. A saúde faz das tripas coração para lidar com o que lhe chega às mãos. A veterinária controla e monitoriza. O poder político decide.

Realidades e comportamentos voltam à discussão. Os animais infetam os homens. Os animais estão mais perto uns dos outros. Os humanos estão mais perto dos animais por via da desflorestação. Os animais selvagens têm menos espaço e procuram novos destinos e formas de sobreviver. Os vírus aproveitam-se das vulnerabilidades humanas. Os habitats naturais têm sofrido ataques. Um sistema alimentar desequilibrado afeta a saúde. Terras agrícolas galgam terrenos. A produção de gado não pára de crescer. Na China, o negócio dos animais selvagens envolve 12 milhões de pessoas e 65 mil milhões de euros por ano. A população mundial tem duplicado e vive concentrada em cidades. O mundo global é uma autoestrada em que se viaja à velocidade da luz.

Os dados estão lançados. Um agente patogénico que passou de um animal para um humano percorre muitos quilómetros em poucas horas. E o Mundo está, neste momento, virado do avesso. O mais recente coronavírus, o sétimo, terá sido transmitido por uma espécie de morcego num mercado de venda de animais selvagens em Wuhan, China. Ainda não se sabe ao certo se, na atual pandemia, terá havido pelo meio um pangolim, pequeno mamífero selvagem, como intermediário na mutação de um vírus desconhecido e nessa transmissão para a espécie humana. Sabe-se, no entanto, que o coronavírus não precisa de um animal para sobreviver.

Exemplos não faltam. Em 2002, o coronavírus SARS foi identificado como causa de um surto de síndrome respiratória aguda grave. Dez anos depois, o MERS-CoV era apontado como responsável pela síndrome respiratória do Médio Oriente. Nos dois casos, o provável hospedeiro original terá sido um morcego. E é um morcego que também é apontado como o reservatório natural do ébola. A gripe das aves, causada por uma estirpe altamente agressiva de um vírus, vem de aves infetadas, vivas ou mortas. O vírus influenza passou das aves para os porcos e para os humanos. Um rato que mora em África espalhou a febre de Lassa pela Nigéria, Libéria, Guiné e Serra Leoa, e ainda voou para os Estados Unidos e Reino Unido. A malária é uma doença infecciosa transmitida por mosquitos. A leishmaniose, doença parasitária, é igualmente transmitida pela picada de um mosquito. A doença das vacas loucas, ou doença de Creutzfeldt-Jakob, ataca o gado doméstico bovino e é transmissível ao homem. O VIH migrou para os humanos e teve a sua origem em chimpanzés selvagens.

Os animais transmitem doenças ao Homem desde sempre. Ponto. Os morcegos, os primatas e os roedores são referidos como os animais selvagens que mais vírus transmitem à humanidade. E os vírus têm uma extraordinária capacidade de adaptação, esperando uma oportunidade de entrar nas células humanas e fazer estragos. Sempre houve riscos, sempre haverá, o impacto é que pode ser mais suave ou mais violento na saúde humana. A atual pandemia colocou o Mundo em casa e já matou quase 200 mil pessoas.

Como é que os vírus, as bactérias e os parasitas saem dos animais e infetam o homem? De várias maneiras. “Por contacto, por inalação, pela alimentação, entre outras possibilidades”, responde Manuel Vilanova, imunologista, professor no ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto. Ninguém tem o dom de adivinhar quando um vírus sai de um animal, como acontece a sua mutação, quando e como atacará o homem. “Não podemos prever, podemos reagir, e tem de se atacar o problema em várias frentes, farmacológica, imunológica, e tudo isso demora tempo.” De qualquer forma, a comunidade médica e científica mundial nunca esteve tão focada e unida para tentar encontrar uma solução para a atual pandemia.

Matar animais está obviamente fora de questão. “É necessário ter cuidado como os produtos animais são disponibilizados e como são organizadas as regras de higiene e de segurança alimentar.” Uma coisa é certa: a saúde dos animais afeta a saúde dos humanos. “Sem dúvida. É uma lição que toda a gente não devia esquecer nunca e que agora foi colocada de uma maneira muito evidente”, sublinha Manuel Vilanova.

A percentagem chegou da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) com o aviso de que não se pode continuar de braços cruzados: cerca de 70% das novas doenças que infetam o homem têm origem animal. O relatório é de 2013, é o mais recente na matéria, e continua atual. A agência alimentar das Nações Unidos pediu, nessa altura, uma intervenção integrada e global para gerir as ameaças à saúde. Tentar antecipar em vez de reagir.

A saúde humana, a saúde animal e a saúde do ecossistema não podem ser vistas separadamente. É necessário refletir a saúde em conjunto e sem fronteiras, estruturar ideias, identificar problemas, fazer recomendações, criar um plano de ação, comprometer e responsabilizar o poder político. “Tem de haver respeito pelo conhecimento e pela ciência”, refere Henrique Cyrne de Carvalho, diretor do ICBAS, doutorado em Medicina, representante português na One Health – World Health Organization, grupo europeu que trabalha na fusão de organismos de saúde humana e veterinária, que se mexe nesse eixo da saúde humana, animal, ambiental. A intervenção, em seu entender, tem de ser feita o mais possível a montante e a informação produzida com consistência e sem margem para dúvidas tem de estar em cima da mesa de quem decide. Não pode ser de outra forma. “Estamos francamente expostos a infeções que dizimam populações em números assustadores, sejam bactérias, vírus, parasitas”, observa. “E é preciso termos a humildade de reconhecer que o Mundo não está preparado para situações desta natureza”, acrescenta.

O Mundo é global, extremamente urbanizado, o campo é um lugar distante, a vida selvagem uma imagem remota. João Niza Ribeiro, médico-veterinário, doutorado em Ciências Veterinárias, professor no ICBAS, membro do One Health, coloca todos esses pontos na conversa. “O que acontece é que doenças altamente infecciosas se globalizaram, se generalizaram. Este tipo de situação está ligado com a urbanização.” Cidades cheias de gente, densidades populacionais fora do comum. As pessoas infetam-se, infetam os outros, e depois percebe-se o que está a acontecer. Enquanto isso, diz, “os agentes patogénicos fazem o seu percurso”.

Didier Cabanes, doutorado em Biologia Molecular, líder do grupo de investigação em Microbiologia Molecular do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, tem opiniões, não tem soluções. “O que está a acontecer é o resultado da nossa maneira de viver há 50 anos. Estamos sempre a reduzir o espaço reservado aos animais selvagens e muitos desses vírus, que não são conhecidos, vêm de animais selvagens.” Quanto mais próximos, mais expostos. E as doenças têm as suas particularidades, as suas originalidades. “Os vírus têm uma capacidade enorme de modificar o genoma para se adaptarem, encontram uma maneira de infetar o homem, e isso não é novidade”, assinala. A questão é que a história se repete vezes sem conta e, por vezes, deixa o Mundo de rastos.

O que chega à mesa tem extrema importância. Francisco Sarmento, ex-representante da FAO em Portugal, com 30 anos de experiência internacional em sistemas alimentares, junta vários elementos. “A pandemia vem, muito provavelmente, do pandemónio alimentar. A forma como industrializámos a agricultura e globalizámos a alimentação nas últimas décadas faz com que estejamos a matar o planeta e, consequentemente, a nós próprios. Arrasamos a biodiversidade e eliminamos organismos protetores para produzir mais calorias e não mais nutrientes”, salienta. Os mais expostos aos vírus que “saltam” dos animais, que provocam pandemias, acabam geralmente por ser os que mais carregam um histórico de doenças e complicações. “Ficamos mais vulneráveis ao sobrepeso, obesidade, cancro, diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras patologias que se vão tornando crónicas. E vamos morrer mais e mais rapidamente de um conjunto de outras enfermidades se não mudarmos o sistema alimentar e a sua relação com os ecossistemas. Muda-se com vontade política, participação social e ciência. O maior inimigo, como sempre, é a ignorância.”

A circulação de animais e pessoas também explica a transmissão de doenças. O número de viajantes por ano anda na ordem dos biliões. “Os modelos de movimentação de animais para consumo estão muito regulamentados na Europa e nos Estados Unidos, muito mais do que está regulamentado o movimento das pessoas”, repara Henrique Cyrne de Carvalho. A mobilidade dos animais é um movimento mais organizado e fácil de controlar. A dos humanos não está feita para evitar a exposição a agentes patogénicos. “Isto é um modelo de enorme complexidade que envolve variáveis não controláveis”, comenta o diretor do ICBAS.

A saúde animal é também a saúde humana e, em todo o caso, as estruturas de veterinária têm mecanismos de controlo apertado de vigilância e monitorização dos animais para consumo humano, desde as rações que comem à comercialização em mercados. “Não podemos prever tudo, temos estruturas capazes de prevenir e com capacidade de reagir”, garante João Niza Ribeiro. A questão são os meios ao dispor, aponta, lembrando que o orçamento anual dos maiores hospitais do país é quatro a cinco vezes superior a toda a estrutura veterinária do país.

Homens, animais, ecossistemas. Tudo se articula neste triângulo em que cada vértice tem a máxima importância. “Não podemos colocar a natureza numa caixinha de vidro. Temos de respeitar a natureza”, afirma João Niza Ribeiro. Didier Cabanes não tem dúvidas. “Este problema vai acontecer mais vezes e ninguém se preparou realmente, os sistemas de saúde não estavam preparados.” Mudar o modo de vida, maneiras de consumir, dar mais espaço à vida selvagem? Está tudo em aberto. “Temos de nos preparar para a próxima vez porque vai acontecer. Não podemos parar a economia durante dois anos. Isso não é possível.” Prever é uma impossibilidade, reagir não basta, é preciso então definir planos e articular estratégias para proteger a saúde. De animais e humanos.

Fonte: Notícias Magazine
Texto: Sara Dias Oliveira

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Portugal vai ter registo de animais com cancro

Plataforma vai permitir compreender a frequência e distribuição destes tumores em todo o país.

Com a plataforma ‘Vet-OncoNet‘ nasce o registo nacional para animais com cancro. Dois institutos da Universidade do Porto lançam esta plataforma que, ao “compilar informação sobre o registo oncológico” de animais de estimação, vai permitir estudar frequência, predominância e fatores de risco associados à doença em Portugal.

João Niza Ribeiro, coordenador da plataforma, explicou que esta surgiu da “necessidade de existir um registo o mais sistemático possível da oncologia animal”, designadamente, dos animais de estimação.

“Queremos que esta estrutura recolha dados produzidos nos laboratórios, nas clínicas e nos hospitais veterinários de maneira a existir uma sistematização dos mesmos”, frisou.

Desenvolvida pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), a plataforma vai assim permitir compreender a frequência e distribuição destes tumores em todo o país.

“Esta estrutura vai possibilitar saber a quantidade de cancros em território nacional, em que espécies é mais predominante, se está a aumentar e se está mais focado em zonas urbanas ou rurais”, exemplificou João Niza Ribeiro, membro da direção do ISPUP e docente do ICBAS.

Além de auxiliar a compreender a predominância, a plataforma, que foi elaborada sob o conceito ‘One Health’ (‘Uma Saúde’, em português) possibilitara também “estudar fatores de risco associados” à doença, mas também à saúde humana e ambiental.

“Pensamos que uma parte dos fatores que levam ao aparecimento de cancro são ambientais e esses fatores ambientais têm influência quer nos animais quer nos humanos. Há sempre interesse, ao estudar a sobreposição de áreas, perceber que pode haver ali fatores comuns e que, no fundo, os animais possam servir de sentinela”, frisou o investigador.

A esta plataforma poderão aceder médicos veterinários, proprietários de animais e laboratórios de diagnóstico veterinário, sendo que cada um terá um espaço próprio no site para submeter a informação recolhida.

À Lusa, João Niza Ribeiro adiantou que, posteriormente, a plataforma poderá também, “com outra finalidade”, tentar compilar dados sobre animais de produção.

“Nós temos um serviço de inspeção sanitária das carnes, que identifica e retira do consumo numa fase muito precoce todos os animais que não estejam saudáveis. Mas, o que não há, é uma sistematização desse registo, ou melhor, está sistematizado, mas não é tratado. Essa é uma das linhas potenciais que nós temos, isto é, podermos vir a estabelecer algum acordo com a Direção-Geral de Veterinária, no sentido de podermos aceder a essa informação”, concluiu.

Fonte: Rádio Renascença
Texto: Lusa
Foto: Alexis Chloe/Unsplash

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