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Bem-estar, qualidade e segurança do pescado

O pescado é um dos grupos de alimentos cujo consumo é mais incentivado pelos nutricionistas atuais, em resultado dos seus reconhecidos benefícios para a saúde humana. Sendo um alimento do futuro, para além da sustentabilidade, importa aprofundar os métodos de avaliação da sua qualidade e da sua segurança alimentar.

A investigação em curso no Laboratório de Tecnologia do Pescado do Departamento de Produção Aquática do ICBAS incide sobretudo no desenvolvimento de novos métodos sensoriais, químicos e microbiológicos para avaliação da frescura do pescado e identificação da sua origem e autenticidade. São também investigadas medidas para avaliar e melhorar o bem-estar animal em aquacultura e a gestão e aproveitamento dos desperdícios da sua produção.

Na análise sensorial, têm sido criadas novas tabelas no âmbito do ‘Quality Index Method’, para várias espécies aquáticas com relevância em Portugal.

Na área da química foram realizados trabalhos para caraterização nutricional e toxicológica (mercúrio) de espécies do topo da cadeia alimentar, presumivelmente mais problemáticas.

Na microbiologia têm sido feitos estudos de caraterização da microflora do pescado, bem como o desenvolvimento de novas técnicas microbiológicas para caraterização e identificação da origem de espécies de aquacultura.

A gestão de desperdícios tem incidido na identificação de fontes, caraterização dos resíduos e na sua utilização como ingredientes em alimentos compostos para animais, sobretudo de aquacultura.

O trabalho tem incluído também a caraterização do bem-estar animal em peixes de aquacultura, sobretudo métodos de abate e melhoria da sua eficácia.

Na área da certificação, foi efetuada uma listagem de sistemas internacionais de certificação de produtos aquáticos e dos principais produtos, e é dado apoio, a empresas da área do pescado, na criação deste tipo de sistemas para os produtos portugueses.

Um ambiente equilibrado e com saúde permite o crescimento de seres aquáticos também saudáveis, que farão parte de uma alimentação adequada, proporcionando saúde aos animais e aos seres humanos, confirmando a moderna visão de Uma Saúde que todos queremos para o nosso mundo no futuro.

Para saber mais:

Método do Índice de Qualidade (QIM) para avaliação da qualidade do pescado: aplicações, limites e tendências futuras

Composição elementar do músculo do peixe-espada

Contacto: Professor Paulo Vaz-Pires (vazpires@icbas.up.pt)

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Investigação

Projeto BeachSafe: Uma praia microbiologicamente segura é realmente segura?

Na Europa, a qualidade das águas balneares é regulamentada por uma diretiva (de 2005) através de dois indicadores bacterianos: Escherichia coli e enterococos intestinais, sinais de contaminação fecal. No entanto, as alterações climáticas em curso promovem o surgimento de outras bactérias patogénicas não relacionadas com o esgoto. Entre eles, os vibrios, microrganismos aquáticos onipresentes, responsáveis por várias doenças humanas, como cólera, septicemia ou hemorragia.

No âmbito do projeto BeachSafe, um estudo realizado pelo Laboratório de Hidrobiologia e Ecologia do ICBAS, que analisou a água de 10 praias costeiras populares do Norte de Portugal, revelou que a maioria apresenta baixos níveis de contaminação fecal, mas elevado número de diferentes espécies de vibrios, especialmente durante a época balnear de verão.

Na prática, tal significa que os banhistas são expostos a bactérias patogénicas emergentes não rastreadas durante as pesquisas oficiais de rotina sobre a qualidade das águas balneares. Na origem destes resultados, parecem estar as alterações climáticas e descargas de águas residuais deficientemente tratadas que ajudam a propagar estas bactérias.

Neste momento, os riscos para as pessoas são ainda pouco conhecidos e o projeto está a trabalhar no sentido de averiguar as suas implicações.

Para saber mais:

Descrição do projeto BeachSafe
– Dinámicas da bactéria Vibrio em águas balneares e o risco associado à saúde humana

Contacto: Professor Adriano A. Bordalo (bordalo@icbas.up.pt)

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Investigação

Aquacultura sustentável e dietas funcionais para peixes

A aquacultura é o setor da produção animal com maior crescimento global, contribuindo já com mais de 50% do pescado consumido a nível mundial. Este crescimento vai continuar devido às limitações da captura de espécies selvagens e ao aumento da população mundial e consequente aumento da procura.

Portugal já importa cerca de 2/3 do pescado que consome, o que representa um desequilíbrio na balança comercial superior a 600 milhões €/ano. Este desequilíbrio apenas poderá ser ultrapassado através do desenvolvimento sustentado e sustentável da aquacultura. É nesse sentido que surge a visão europeia para o Desenvolvimento Sustentável da Aquacultura, que assenta na promoção da competitividade através de metodologias inovadoras ambientalmente sustentáveis, tendo em conta o bem-estar e a saúde animal, e a perspetiva do consumidor.

Em Portugal, assim como na Europa, produzem-se essencialmente espécies marinhas e maioritariamente carnívoras. No território nacional, as principais são pregado, dourada, truta, robalo e linguado. A produção destas espécies implica conhecer os requisitos nutricionais de cada uma delas de forma a garantir um crescimento excelente, otimizando a saúde e o bem-estar animal.

As dietas existentes no mercado são desenhadas de forma particular para cada espécie e estas formulações obedecem a regras bem definidas e regulamentadas. Todo o processo é rastreado de modo a garantir a segurança do consumidor. Da mesma forma, o valor nutricional de cada peixe depende destas dietas, sendo por isso importante garantir que estas cumprem com os mais elevados requisitos de qualidade.

O Laboratório de Nutrição, Crescimento e Qualidade do Peixe do CIIMAR, liderado por uma Professora do ICBAS, trabalha para otimizar e avaliar práticas de produção sustentáveis em aquacultura e melhorar a qualidade, segurança e bem-estar dos peixes. Elabora também dietas funcionais para estes animais, desenhadas para promover a sua saúde e valor nutricional, de forma a responder às crescentes exigências do consumidor.

 

Para saber mais:

– Nutrição e alimentação de Peixes
– Processamento físico ou suplementação de alimentos para melhorar a utilização de Gracilaria gracilis pelo robalo Europeu juvenil (Dicentrarchus labrax)
– Valor nutricional de diferentes farinhas de larvas de insetos como fontes de proteína para juvenis de robalo europeu (Dicentrarchus labrax)

Contacto: Professora Luísa Valente (lvalente@icbas.up.pt)

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Projeto Vet-OncoNet: Uma Oncologia, Uma Saúde

Muitos dos tumores em animais de companhia são comparáveis aos tumores humanos e podem servir-lhe como modelo em estudos epidemiológicos e ensaios clínicos.

Nestes últimos, os animais de companhia estão melhor posicionados do que os modelos animais, como os ratinhos de laboratório, porque além de estarem expostos a fatores de risco ambientais semelhantes, desenvolvem as neoplasias de forma espontânea e mais rápida, o que favorece os resultados clínicos. No futuro, espera-se que possam vir a ser usados como sentinelas para ambientes de risco para humanos, possibilitando a adoção de medidas preventivas adequadas à saúde humana e ambiental.

A Vet-OncoNet é uma rede de partilha de informação de tumores de animais de companhia e investigação de fatores de risco. Esta plataforma é uma iniciativa do ICBAS e do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), enquadrada nas políticas Uma Saúde destas instituições. Envolve investigadores dos departamentos de Estudo de Populações, Clínicas Veterinárias, Patologia e Imunologia Molecular do ICBAS e o Departamento de Saúde Pública Veterinária (ISPUP). A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), associou-se a esta iniciativa, tornando-se Instituição cofundadora da Rede Vet-OncoNet. Criada sobre os pilares do conceito e visão Uma Saúde, visa contribuir para o progresso na prevenção e na terapêutica em oncologia animal e humana. Estas beneficiam mutuamente desta abordagem conjunta e partilha de conhecimento entre cientistas das diversas áreas.

Inserida neste contexto académico-científico, a missão da Vet-OncoNet é desenvolver atividade científica, de ensino, divulgação e comunicação de informação credível no domínio da Oncologia Animal.

Para saber mais:

Vet-Onconet: Rede de partilha de informação de neoplasias de animais de companhia e investigação de factores de riscos

Contacto: Professor João Niza Ribeiro (jjribeiro@icbas.up.pt)

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Prevenção do atraso físico e mental através da ingestão de iodo

Os seres humanos e outros animais requerem a ingestão de uma certa quantidade de iodo, um nutriente necessário para o funcionamento regular da tiroide, uma glândula que regula o metabolismo do corpo.

Alimentos e, eventualmente, água, e respirar o ar costeiro rico em iodo são as fontes naturais deste nutriente. Peixe, lacticínios e algas costumavam ser suficientes para cobrir as nossas necessidades. No entanto, o novo paradigma nutricional no mundo desenvolvido favorece a ingestão de alimentos pobres em iodo. A deficiência de iodo, principalmente durante a gravidez e nos primeiros anos de vida, pode comprometer o desenvolvimento físico e mental das crianças.

A iodização do sal é a maneira mais barata, sustentável e universal de lidar com o problema durante a nossa vida. O processo começou há um século na Suíça. Na Europa Ocidental, o uso obrigatório não é generalizado e a deficiência pode atingir níveis preocupantes. Em África, devido à contribuição da Comunidade Internacional, os alunos são regularmente complementados. A maneira de verificar os níveis de iodo é por meio da análise de urina. No entanto, níveis baixos ou altos de iodo levam à mesma doença – bócio. Portanto, a ingestão diária correta por crianças e adultos, incluindo mulheres grávidas, é imprescindível para resolver a deficiência de iodo em todo o mundo.

O Laboratório de Hidrobiologia e Ecologia do ICBAS avalia, na Guiné-Bissau (e não só), a suficiência de iodo em urina humana através de um método certificado para o efeito. Este trabalho é essencial para identificar a carência de iodo e lidar com as consequências da mesma.

Para saber mais:

– Bócio endémico e deficiência de iodo em crianças em idade escolar na Guiné-Bissau
– O sal marinho não fortificado pode cobrir às necessidades humanas de iodo?

Contacto: Professor Adriano A. Bordalo (bordalo@icbas.up.pt)

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Cólera: A pandemia esquecida

Durante vários milénios, a cólera – uma doença diarreica aguda que pode levar à morte em poucos dias se não for tratada – devastou o subcontinente indiano. Vasco da Gama, o conhecido navegador português, morreu de cólera no sul da Índia no século XVI.

A cólera continua ativa hoje em quatro continentes, com especial incidência em África. A doença vai já na 7ª pandemia, que se estende desde 1960. Na Europa, a última epidemia ocorreu em Portugal em 1974, onde infetou quase 2 mil e 500 cidadãos e matou 48.

Água e alimentos contaminados são a principal fonte do agente da cólera – um vibrio (bactéria) onipresente nas águas costeiras. Uma vez ingerida em dose suficiente, a bactéria é capaz de escapar da barreira de ácido do estômago e colonizar o intestino. Se as toxinas forem produzidas, uma pessoa pode perder até 20 litros de líquidos internos por diarreia aquosa. Se estes líquidos não forem substituídos, o paciente morre. O tratamento é particularmente barato, por meio da reposição de eletrólitos através da administração de uma solução de reidratação oral, uma mistura de açúcar e sais e, eventualmente, antibióticos comuns.

A falta de água potável, saneamento, higiene e os cuidados de saúde precários em todo o mundo favorecem a propagação da doença. A batalha pela erradicação está longe de ser concretizada, um fardo adicional para os mais pobres entre os pobres. O Laboratório de Hidrobiologia e Ecologia do ICBAS estuda as condições de acesso a água (qualidade e microbiologia) da população na Guiné-Bissau, analisa a relação entre o consumo de água e o aparecimento de doença, e identifica as possíveis causas da contaminação deste precioso líquido.

Para saber mais:

Sacos de água como potencial veículo de transmissão de doenças na capital da África Ocidental, Bissau
Análise da composição bacteriana na água ácida de poço usada para beber na Guiné-Bissau, África Ocidental

Contacto: Professor Adriano A. Bordalo (bordalo@icbas.up.pt)

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Portugal vai ter registo de animais com cancro

Plataforma vai permitir compreender a frequência e distribuição destes tumores em todo o país.

Com a plataforma ‘Vet-OncoNet‘ nasce o registo nacional para animais com cancro. Dois institutos da Universidade do Porto lançam esta plataforma que, ao “compilar informação sobre o registo oncológico” de animais de estimação, vai permitir estudar frequência, predominância e fatores de risco associados à doença em Portugal.

João Niza Ribeiro, coordenador da plataforma, explicou que esta surgiu da “necessidade de existir um registo o mais sistemático possível da oncologia animal”, designadamente, dos animais de estimação.

“Queremos que esta estrutura recolha dados produzidos nos laboratórios, nas clínicas e nos hospitais veterinários de maneira a existir uma sistematização dos mesmos”, frisou.

Desenvolvida pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), a plataforma vai assim permitir compreender a frequência e distribuição destes tumores em todo o país.

“Esta estrutura vai possibilitar saber a quantidade de cancros em território nacional, em que espécies é mais predominante, se está a aumentar e se está mais focado em zonas urbanas ou rurais”, exemplificou João Niza Ribeiro, membro da direção do ISPUP e docente do ICBAS.

Além de auxiliar a compreender a predominância, a plataforma, que foi elaborada sob o conceito ‘One Health’ (‘Uma Saúde’, em português) possibilitara também “estudar fatores de risco associados” à doença, mas também à saúde humana e ambiental.

“Pensamos que uma parte dos fatores que levam ao aparecimento de cancro são ambientais e esses fatores ambientais têm influência quer nos animais quer nos humanos. Há sempre interesse, ao estudar a sobreposição de áreas, perceber que pode haver ali fatores comuns e que, no fundo, os animais possam servir de sentinela”, frisou o investigador.

A esta plataforma poderão aceder médicos veterinários, proprietários de animais e laboratórios de diagnóstico veterinário, sendo que cada um terá um espaço próprio no site para submeter a informação recolhida.

À Lusa, João Niza Ribeiro adiantou que, posteriormente, a plataforma poderá também, “com outra finalidade”, tentar compilar dados sobre animais de produção.

“Nós temos um serviço de inspeção sanitária das carnes, que identifica e retira do consumo numa fase muito precoce todos os animais que não estejam saudáveis. Mas, o que não há, é uma sistematização desse registo, ou melhor, está sistematizado, mas não é tratado. Essa é uma das linhas potenciais que nós temos, isto é, podermos vir a estabelecer algum acordo com a Direção-Geral de Veterinária, no sentido de podermos aceder a essa informação”, concluiu.

Fonte: Rádio Renascença
Texto: Lusa
Foto: Alexis Chloe/Unsplash

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