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ICBAS defende inspeção “post mortem” no combate à Tuberculose Bovina

Estudo vem suportar a decisão da DGAV de não implementar a proposta da legislação europeia de alteração do protocolo de inspeção sanitária de carne bovina.

Investigadores  do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, publicaram recentemente um estudo na revista One Health, no qual comprovam a importância da inspeção post mortem na identificação de lesões de Tuberculose Bovina (bTB), e o seu contributo para o respetivo Plano de Erradicação. O mesmo estudo vem ainda suportar a decisão da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) de não implementar a proposta da legislação europeia de alteração do protocolo de inspeção sanitária de carne bovina, tornando-a tendencialmente visual.

Realizado em colaboração com a DGAV e a Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), o trabalho agora publicado tem na sua base a regulamentação europeia que define novas regras nos controlos oficiais de géneros alimentícios, nomeadamente na inspeção sanitária de carnes.

O Regulamento de Execução (UE) 2019/627 prevê que “a inspeção sanitária da carne de bovinos possa ser tendencialmente visual nos animais até aos 8 meses e entre os 8 e os 20 meses, se estes forem criados em ambiente controlado, sem contacto com o meio exterior”, como explica a médica veterinária e docente do ICBAS, Eduarda Gomes Neves.

Estas alterações podem ter impacto na deteção desta zoonose e diminuir a eficiência do Plano Nacional de Erradicação da Tuberculose Bovina, em vigor desde 1991. O estudo faz uma análise de dados de 10 anos (entre outubro de 2010 e janeiro de 2020) e conclui que utilizar apenas a inspeção visual em bovinos mais jovens poderá ser insuficiente para a deteção de bTB.

Como explica Eduarda Gomes Neves, “no contexto atual ainda não faz sentido suprimir a incisão nos tecidos dos animais com idade inferior a 8 meses, sob pena de poder ser aprovada para o consumo humano carne de animais com lesões”. Com este trabalho, “fornecemos dados robustos que suportam a necessidade de manter os procedimentos anteriores, não flexibilizando, neste momento, a inspeção sanitária de bovinos. Os resultados do Plano Nacional de Erradicação da bTB indicam que o problema ainda persiste”, acrescenta a docente e investigadora.

Para além das conclusões partilhadas com a DGAV, com objetivo de fundamentar a tomada de decisão sobre a manutenção da prática de inspeção com palpações e incisões, este trabalho reforça a importância de abordar os problemas de saúde desde uma perspetiva integrada e holística.

“Quando trabalhamos questões relacionadas com segurança alimentar, saúde pública e saúde animal não podemos deixar de incluir a componente ambiental. No caso da Tuberculose Bovina, sabemos que o contacto direto ou indireto entre animais de produção e animais silváticos, por exemplo através do acesso a terrenos de pastagem, contribui para a transmissão da doença. As espécies cinegéticas, como veados ou javalis, constituem reservatórios do Mycobacterium bovis, como diversos estudos têm comprovado”, refere Eduarda Gomes Neves, concluindo que é fundamental manter esta investigação “dentro do âmbito Uma Saúde”.

Fonte: Notícias UP

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